Imperdíveis as colunas de hoje de Clóvis Rossi e Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo. Pena que a companheira de página não mantenha o nível...
Os textos estão abaixo:
A regra do jogo
CARLOS HEITOR CONY
RIO DE JANEIRO - No Brasil e no mundo, é um lugar-comum as autoridades constituídas declararem que "não negociam com criminosos". Vão às últimas conseqüências, preferem bancar para ver se o adversário está blefando -e geralmente não está.
Tivemos um caso desses durante a ditadura militar. Um grupo de adversários do regime seqüestrou o embaixador dos EUA. Como da tradição dos seqüestros, fez exigências que incluíam a libertação de alguns presos políticos e a leitura de manifestos condenando o arbítrio e a prática de atos totalitários. O governo da época achou mais prudente aceitar o preço do resgate -o que não impediu, pelo contrário, aumentou o grau da repressão.
Na vida pessoal dos cidadãos, muitos casos de seqüestros são negociados pelas famílias das vítimas, que discutem o preço do resgate e acabam não apenas pagando a quantia combinada mas evitam colocar a polícia na jogada -exigência obrigatória dos seqüestradores.
O tema é polêmico. Mas desde que se reconheça um estado de guerra entre a lei e o crime (político ou policial), ficam valendo as práticas tradicionais entre os dois beligerantes. O acordo, a trégua, o toma lá dá cá costumam ser uma regra seguida desde os tempos de Alexandre e de César.
É evidente que a negociação fortalece, em princípio, o inimigo. Mas a própria negociação revela não apenas a força do adversário mas a firmeza de suas convicções -que podem fornecer elementos novos para combatê-lo.
Não vem ao caso discutir se as Farc são um bando de criminosos financiados por traficantes. Em outros tempos, seriam financiados pelo ouro de Moscou ou da China, com a mesma finalidade de contestar e, se possível, derrubar um governo comprometido com a política dos Estados Unidos.
Para sorrir na crise
CLÓVIS ROSSI
SÃO PAULO - Para quem não está com o seu ardendo na fogueira financeira global, há algumas ironias na situação. A primeira delas já foi exposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao dizer que o pessoal do Citigroup "dava tanto palpite", mas, na hora do vamos ver, "eles demonstraram que não têm tanta competência".
De fato, William Rhodes, hoje presidente do Citibank, foi o presidente do comitê de credores que negociava a dívida externa dos países em desenvolvimento, em especial os da América Latina. Fartou-se de emitir sermões sobre como deveriam comportar-se, assumindo-se como portador das tábuas da lei.
Agora, vê-se que os sermões eram do tipo "faça o que digo, não o que faço", visto que o grupo caiu, de certa forma, na mesma esparrela dos países em desenvolvimento.
O único problema com a ironia de Lula é que ele mudou tanto, mas tanto, que o mesmo Rhodes disse dele, em janeiro de 2005, em Davos, que era "um exemplo para o mundo". Será que a falta de competência que Lula agora vê no Citi se aplica ao "palpite" de Rhodes, dito, de resto, na presença do próprio presidente brasileiro, na cena mais explícita de gozo de um banqueiro com as políticas do lulo-petismo?
Uma segunda ironia vem do fato de que os chamados "fundos soberanos" (dos governos, estatais, portanto) funcionaram como o sétimo de cavalaria no socorro ao Citigroup. Quer dizer o seguinte: banqueiro odeia a intervenção do Estado e gostaria até de vê-lo reduzido à mínima expressão, ao osso. Mas, na hora da necessidade, aceita gostosamente a intervenção do Estado para evitar problemas ainda mais graves.
Ou, posto de outra forma, a intervenção do Estado só é execrável quando se dá a favor dos outros.
Quando é a "meu" favor, "pecunia non olet", o dinheiro não tem cheiro, como diria o Cony.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
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