quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Ciclo

O Uol noticiou: “Jovens da periferia de São Paulo recorrem à violência para obter admiração, diz estudo

Algumas perguntas:
Na manchete, muda muito se trocarmos “periferia” por “classe alta”?

A opressão do mercado financeiro não é também uma forma de violência, uma vez que a lógica neoliberal é a principal mantenedora dos “abismos sociais”?


Os “abismos sociais” não são a principal causa da pobreza e da violência nas periferias?


A última pergunta poderia ser: rico ou o pobre. Quem sofre mais com a violência? Achei mais justo perguntar: rico ou o pobre. Quem é mais violento?

Ninguém explica

Como os grandes jornais gastam mais de quatro páginas por dia com as prévias das eleições estadunidenses e não sobra uma linha para as eleições cubanas, este aprendiz indica um artigo que ajuda a entender como são as eleições em Cuba.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Boas novas?

Leio nos jornais de hoje que o número de homicídios no Brasil está em queda. No Estadão, o título contradiz quem reclama que nos jornais só há notícia ruim: “São Paulo cai 310 posições no mapa das cidades com mais assassinatos”. Bom, muito bom. Mesmo assim, a população da maior cidade do Brasil está apavorada. A palavra soa sensacionalista, mas não há melhor forma de expressar o que se viu em maio de 2006. O sentimento continua aí e aparece sempre que evitamos certos locais ou fechamos o vidro do carro.

Agora, se na capital a situação melhorou e continua ruim, o que dizer da seguinte retranca: “Áreas de desmatamento têm maior índice de homicídios”? Segundo a reportagem, é no interior do país e nas cidades de fronteira que a violência aparece com maior vigor. O comentário é óbvio: “São as áreas onde o Estado não se faz presente. É uma terra sem lei”. Eu discordo. A terra pode não ter lei, mas tem dono. E ele se encarrega das regras. É algo simples: manda quem pode, obedece quem tem juízo, morre quem foge e se ficar trabalha até a morte.

Sim. Falo de trabalho escravo, em 2008, na Amazônia.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Resta um

Do Uol: Chefe da arbitragem diz: 'Sálvio será preservado contra São Paulo'

Meus botões não se contiveram em perguntar: como seria se um time médio, digamos, como a Portuguesa, tivesse postura semelhante à do São Paulo?

Lobo’s

Possuímos Ministérios Distribuídos por Barganha

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) concedeu uma rápida entrevista ao Estadão, sobre seu posicionamento contrário ao ingresso de Lobinho em seu partido. O título da matéria foi uma de suas frases: “O DEM, que é o DEM, diz que não o quer e nós vamos recebê-lo?”. Quem lê sem muita atenção até pensa que o partido de Simon e de Lobão é formado por singelos cordeirinhos, como Quércia e Garotinho. A matéria completa segue abaixo:

'O DEM, que é o DEM, diz que não o quer e nós vamos recebê-lo?'

Para senador, se legenda pediu sua desfiliação por questões éticas, Edinho tampouco tem condições para entrar no PMDB

Rosa Costa
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) fez chegar à cúpula peemedebista sua posição frontalmente contrária à filiação de Edison Lobão Filho, o Edinho, a seu partido. Simon alega que o pedido de dirigentes do DEM para Edinho se desfiliar da legenda é um sinal de que ele não tem condições éticas para ingressar no PMDB.

Edinho é suplente do pai, o senador Edison Lobão (PMDB-MA), nomeado para o Ministério de Minas e Energia. Simon considera “quase ridículo” o argumento usado por Edinho, empresário bem-sucedido no Maranhão, de que não sabia nada sobre a transferência de suas cotas na empresa Bemar, que deve R$ 42 milhões à Receita Federal, para uma empregada doméstica de seu ex-sócio. A seguir, a entrevista:

Por que o senhor resiste à filiação, como se cogitou, de Edison Lobão Filho, suplente e filho do ministro Edison Lobão, no PMDB ?
Se o DEM pediu para ele se retirar, sob o argumento que não tem condições de ser senador do partido, por que é que o PMDB vai aceitá-lo? Acho que isso não tem lógica, deveria ter sido analisado antes de escolher o Lobão para ministro.

O senhor acha difícil acreditar na defesa feita por Lobão Filho, de que não sabia que estava transferindo para a empregada doméstica de seu sócio suas ações da empresa Bemar, que deve hoje R$ 42 milhões ao Fisco?
É quase ridículo esse argumento. Como é que alguém vai passar uma empresa para alguém que não conhece? Ele não sabia que era uma empregada doméstica? Mas ele sabia quem era? Sinceramente, isso não tem explicação.

O senhor chegou a conversar com dirigentes do PMDB sobre sua posição contrária à filiação de Lobão Filho?
Em primeiro lugar, eu fiz chegar ao governo, quando a imprensa publicou que havia unanimidade na indicação do senador Lobão para o ministério, que não havia. Quanto ao suplente, nem me passava pela cabeça que o cidadão tem essa biografia que ele tem. O DEM, que é o DEM, diz que não o quer porque ele não tem condições éticas para ficar no partido e agora nós vamos recebê-lo no nosso?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O dono da bola

Aprende-se desde sempre, desde criança. Jogue mal ou jogue bem, o dono da bola tem lugar garantido no time. É daquelas regras que não mudam com o tempo, como um princípio da física ou a Lei de Murphy. Lembro que na minha época de aspirante a jogador, garantíamos que aquele menino mimado e ruim de bola ficasse sempre do nosso lado. Ele podia até ser o atacante, se quisesse. Fazíamos o possível para garantir que a partida não fosse interrompida por de seus um acessos de raiva.

De certa forma, a tática funcionava. O time ficava desfalcado, todos corriam um pouco mais e o jogo seguia normalmente, durante toda a tarde. Após duas ou três horas de peleja, o dono da bola dizia que iria embora, pois estava cansado e a mãe o esperava para o café da tarde. Mas a bajulação era tanta que ele até emprestava a bola para que terminássemos as emocionantes partidas. No outro dia, a história se repetia. Alguém tinha que escolher o dono da bola para o seu time, nem que um jogador melhor ficasse de fora.

Às vezes, (mal) acostumado com o tratamento que dispensávamos, o dono da bola fazia questão que seus amigos, pouco dotados de coordenação motora, jogassem toda a partida. Sem muitas opções, aceitávamos a determinação. Quando isso acontecia, perdíamos a maioria dos jogos. Resignados, dizíamos que é melhor perder do que não jogar. E assim foi por alguns anos, até que alguém disse: “chega, Precisamos Mudar De Bola!”. Juntamos as economias e compramos uma linda bola de capotão, propriedade coletiva da equipe. Depois desse dia, ele não mandou mais no nosso time.

Perdoem-me. Eu sei que poucos gostam, mas tive de escrever novamente sobre a política de Brasília.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

4 linhas

Como hoje, além de sexta-feira, é feriado na maior cidade do país, o tema do blog será futebol. Tá certo, não será o futebol propriamente dito, mas é algo que não consigo deixar de comentar.

Em novembro, citei um texto do Mauro Beting, que talvez seja o nosso melhor jornalista esportivo. É um desabafo sobre a (falta de) qualidade da "cobertura jornalística" do campeão do século nos jornais, rádios e Tvs tupiniquins. Como ficou claro com a polêmica em torno do Valdívia, nada mudou. Há um site interessante, que trata do assunto, o Observatório Verde. Comentei com o Tonhão: só falta dizerem que o chileno tem de ser punido por "narigar" o pé do zagueiro.

Enquanto isso, do outro lado do muro, continuam os fartos churrascos de carne bambina.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Sintomas da febre

Comento o seguinte caso, noticiado pelo Uol:
Duas pessoas são presas acusadas de vender vacina contra febre amarela em Goiânia

A procura pela vacina em postos de saúde mostrou que a população está assustada com a possibilidade de epidemia de febre amarela. Até os meus ignorantes botões já souberam que a reação foi exagerada, principalmente nos casos de dupla dosagem. É claro que os cidadãos não são culpados. Como poderiam acreditar que a situação está controlada se quem lhes disse isso foi a autoridade responsável?

O fato é que a técnica de enfermagem Avanilda Nunes da Silva e seu marido, Itair Nogueira da Silva, foram presos com 37 doses da vacina, que seriam vendidas, segundo eles, a empresas locais. A delegada Renata Cheim afirmou que o material foi furtado de um Posto de Saúde da Família (PSF) e que tudo será investigado.

É interessante observar a argumentação do casal. Ambos afirmaram não cobrar pelas vacinas, mas pelo “serviço” de entrega. Também disseram que outras pessoas cometeram o mesmo crime. O preço “de tabela” seria R$ 50,00 por dose, mas eles vendiam, promocionalmente, a R$ 10,00. Segundo a polícia, tudo será investigado.

Os moralistas (e pessimistas) dirão que o caso é emblemático e mostra o caráter do brasileiro. Para este aprendiz, ele retrata mesmo a condição humana, essencialmente egocêntrica, ainda mais nos tempos do tal capitalismo de mercado. Não somos só nós que aproveitamos as circunstâncias, de forma ilegal e ilegítima, em benefício próprio.

Agora, uma pergunta. Quem você acha que a investigação vai incomodar mais: as empresas que compraram as vacinas ou os funcionários que as venderam?

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Comentários do dia

Sobrevida
Os jornais trouxeram uma boa notícia, revelada pelo relatório do Unicef:
Situação da infância no Brasil melhora
O Brasil melhorou 27 posições em um ano no ranking de 194 países que avalia a chance de meninos e meninas chegarem aos 5 anos. Entre 1990 e 2006, houve uma queda de 46,9% na taxa de mortalidade infantil no País. Segundo a representante do Unicef no Brasil, há uma tendência na diminuição da desigualdade. “Se analisarmos a evolução, é onde há mais pobreza que os ganhos foram maiores. Nos Estados do Sul e do Sudeste, também houve avanços, mas foram menores”, avaliou Marie-Pierre Poirier.
Recomendo a reportagem do Estadão, que traz mais informações interessantes.
Sem CPMF o avanço continua?

Diferença
Do Estadão: Rombo da Previdência cai pela 1ª vez em 7 anos em relação ao PIB
Da Folha: Déficit da Previdência cresce 2,4% em 2007
Sim, ambas estão corretas. Ou erradas. Há quem diga que o “déficit previdenciário” não existe, pois os benefícios não precisam necessariamente ser pagos somente com as contribuições dos trabalhadores em atividade. Debate importante, que deve ser levado para além dos números.

Lobão, Lobinho e o Ribeiro
A confirmação de Lobão no Ministério e a ordem do PMDB para Lobinho não assumir o cargo de seu pai no senado mostram quem realmente manda na capital. Ou pelo menos quem tem maior vocação para a barganha.
Se Lobinho obedecer, o segundo suplente, Remi Ribeiro, que é lobo fantasiado de cordeiro, assumirá a cadeira no Senado.

Muito ajuda quem não atrapalha

“Os governantes” só sabem roubar
“Muitas pessoas” agem errado
“A maioria da população” é iletrada
“Muitas vezes” acontecem desastres
“Em muitos casos” eles seriam evitados

Palpiteiros de plantão: chega de imprecisão!

“No Brasil, é um absurdo ter serviços ruins quando se paga tanto imposto”
Então fale sobre o uso do dinheiro público no “pagamento” da dívida! Falta de informação causa ambigüidade e atrapalha (ainda mais) o leitor!
Impostos existem para distribuição igualitária de serviços essenciais. Não se pode ter a idéia reducionista de que se trata de uma relação comercial, de “compra e venda”. Você tem direito aos serviços não porque paga imposto, mas porque a Constituição do seu país lhe garante isso. Os direitos não são de consumidor, são de cidadão.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O velho senhor mercado

Como aprendiz, admito que meu conhecimento sobre bolsa de valores e Mercado Financeiro é só um pouco maior do que sobre a segunda divisão do futebol grego. Ou seja, falar desses assuntos é falar do desconhecido. Aliás, opinar sem informar, ou sem estar informado, é uma aberração ética que acomete muitos articulistas, famosos ou não. A sua prática é, em suma, “desinformação”. O pior é cometer o crime crente da importância de “ter opinião formada”.

Mas deixemos de lado o exercício retórico e prolixo, que ficará para outra oportunidade. O texto de hoje está mais preocupado com a falta de racionalidade do Mercado Financeiro. Senhor Mercado, para os íntimos. Ontem as bolsas estadunidenses não funcionaram. Apesar (ou por conta) disso, houve algo como uma crise de ansiedade mundial, que levou a Bovespa a uma queda de 6,6%.

Hoje, o banco central dos EUA reduziu a taxa básica de juros em 0,75%. No meio da tarde, a Bovespa operava em alta de 4,5%. Entendo que a queda dos juros por lá empurrem os investidores para países com taxas mais altas. O difícil é compreender o porquê das perdas no dia anterior, quando os pregões do país que passa pela possibilidade de crise nem funcionaram.

O temperamento do Mercado está cada vez mais difícil. Este senhor foi apontado pelos neoliberais como resposta para todos os males da humanidade. Será que ele está velho demais?



A notícia do Uol, para quem quiser:
Bovespa opera em alta acima de 4% após decisão do Fed

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Mané

Há 25 anos, falecia um dos maiores gênios da história do futebol. O anjo das pernas tortas deixou saudades para todos que o viram jogar. Deixou saudade até para quem nunca assistiu uma de suas partidas, porque nasceu após sua aposentadoria. Estou, é claro, no segundo grupo de admiradores.

De qualquer forma, e apesar de soar improvável, este aprendiz tem uma identificação pessoal com Mané Garrincha. Não sou amigo da família, não tive sucesso como ponta direita (nem em alguma outra função no futebol), muito menos desfruto de talento para o drible e para o baile. Mesmo assim, quando criança sempre ouvia alguém dizer: “esse menino parece um Garrincha!” Eram as pernas desalinhadas. Para uma criança que amava futebol mas vivia tropeçando, era difícil não admirar quem jogou tudo aquilo que diziam, apesar (ou por causa) do “defeito”.

Com anos e os tratamentos, as minhas pernas se ajeitaram. Consegui até jogar um pouquinho de bola, mas realmente faltava talento. As comparações com o craque são só lembranças da época de criança que criaram, no imaginário, uma bela história de superação. Na imaginação, o final de sua vida era diferente.

Ontem pensei no Mané Garrincha e pensei em outras coisas. Se ele também nascesse na década de 80, talvez fizesse um tratamento parecido e “curasse” seu desalinho. Talvez fosse alguém normal. Talvez virasse médico, advogado, jornalista ou engenheiro. Mas aí não seria quem foi: O melhor ponta direita de todos os tempos. A alegria do povo. O anjo das pernas tortas. O homem que fazia um povo rir e aplaudir. Um autêntico brasileiro.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Rápidas

Como é sexta-feira, pensei que seria interessante publicar pequenos comentários sobre os "temas da semana" e seus desdobramentos. Talvez torne-se hábito.

No mundo todo, só 8% crêem nos políticos
Na média mundial, 60% disseram considerar a classe política desonesta. Na América Latina, o índice sobe para 77%, apesar da popularidade dos atuais presidentes. Os números devem ser explicados historicamente, dada a alta incidência de governos ruins no continente ao longo do tempo. Vale a pena ler a reportagem de Clóvis Rossi, que traz outros números interessantes.

Mantega empurra para Congresso volta da CPMF
Sem entrar no debate sobre a necessidade (ou não) da CPMF, que já foi discutida (superficialmente) por este blog, o comentário é sobre a óbvia estratégia governista: errar é humano. Persistir no erro é burrice.

Evo e governadores da oposição chegam a acordo sobre Carta
Perguntei aos meus botões, mas eles calaram: Não era esse o perigoso índio ditador e opressor que presidia a Bolívia?

Fidel reconhece limitações de saúde
É o fim?
Na humilde avaliação deste escriba, a revolução cubana produziu o regime político que, na história da América Latina, alcançou maior nível de igualdade e justiça social. O povo cubano manterá a estrutura, mesmo sem o líder revolucionário. Mesmo tão perto da “terra da liberdade”.

Segundo suplente é acusado de ligação com desvio e fraudes
Remi Ribeiro não é cordeiro. É lobo.
Confirmar Edison Lobão no Ministério das Minas e Energia foi um erro feio de nosso presidente. Além da falta de capacidade técnica, que atrasará os trabalhos, o escolhido traz, a cada dia, um novo “problema político” para a base aliada. Ainda bem, para os governistas, que a incompetência da oposição é ainda maior.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Tortura é terror

Nos últimos dias, os jornais e seus articulistas têm debatido algo interessante e relevante, principalmente na América Latina. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) são ou não são um grupo terrorista? Abaixo do post, copiei uma reportagem do Estadão de hoje, com o desdobramento mais recente. Só para esclarecer, não trata-se apenas de nomenclatura, de “categoria”. Admitir a legitimidade de uma organização muda muito a forma de lidar com ela.

Quem pratica tortura é terrorista. Aliás, qualquer pessoa ou entidade que age pela violência, antes do debate e da negociação, não merece confiança. Dizer que as Farc surgiram e resistem por falta de opções democráticas é uma verdade parcial, difícil de sustentar após tantos anos. A defesa por justiça social, contra o imperialismo estadunidense, é legítima. Mas quero crer que na Colômbia de hoje há condições de fazê-lo com ações políticas, sem prejuízos à população civil.

De qualquer forma, se os europeus mantiverem as Farc em suas listas de grupos terroristas, por conta dos seqüestros e dos casos de tortura, penso em duas conseqüências. A liberação de reféns será adiada e a lista crescerá, com a inclusão do governo do país mais rico do mundo.


Cartas fazem crescer repúdio às Farc

Uribe, Igreja Católica, partidos e governos estrangeiros manifestam indignação com maus-tratos relatados por reféns

Ruth Costas
As cartas e fotos de oito reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) divulgadas terça-feira causaram manifestações de repúdio à guerrilha ontem em toda a Colômbia e no exterior. “Mendieta comoveu e fez chorar a todos”, dizia a manchete do jornal El Tiempo, o principal do país, referindo-se ao relato do coronel Luis Mendieta, oficial de mais alto escalão em poder da guerrilha, no qual ele fala sobre as precárias condições dos acampamentos das Farc.

“Os que assim torturam merecem ser tratados de outra forma que não seja como terroristas? De maneira nenhuma”, disse na terça-feira à noite o presidente colombiano, Álvaro Uribe, que ontem se reuniu com as ex-reféns Clara Rojas e Consuelo González de Perdomo, libertadas pela guerrilha na semana passada. Com a repercussão das provas de vida trazidas pelas duas reféns, a França e a Alemanha também anunciaram que não estão dispostas a tirar as Farc de sua lista de grupos terroristas, proposta feita pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, na sexta-feira.

Ontem, membros da cúpula da Igreja, partidos políticos e diversas representações diplomáticas na Colômbia também se mostraram indignados com o que consideraram um ataque grave à dignidade e aos valores humanos. A comovente imagem da filha de Mendieta, Jenny, de apenas 21 anos, lendo o relato do pai na rede de TV Caracol, a principal do país, era repetida ontem à exaustão.

Na carta, Mendieta conta como os guerrilheiros o obrigam a dormir com correntes no pescoço, atado a uma árvore, apesar de ele estar gravemente doente. “Eu tinha de arrastar-me pela lama para fazer minhas necessidades, só com a ajuda dos meus braços, porque já não conseguia ficar de pé”, diz o coronel, que sofre de dores e inchaços nas pernas por causa das longas caminhadas. “Não é a dor física que me detém, nem as correntes em meu pescoço, mas essa agonia mental, a maldade dos maus e a indiferença dos bons. É como se não valêssemos nada, se não existíssemos.”

Acorrentar os reféns, principalmente os homens e os militares, é uma prática recorrente entre os guerrilheiros. O ex-governador de Meta Alan Jara, por exemplo, diz que praticamente já se sente parte da árvore à qual está preso. Quase todos os reféns relatam a seus parentes que contraíram doenças como malária e leishmaniose, sofrem com outros graves problemas de saúde e vivem um inferno psicológico com a falta de perspectivas de libertação.

AMEAÇAS
A diretora do hospital que atendeu o filho de Clara Rojas, Emmanuel, no interior da Colômbia denunciou ter sido ameaçada de morte pela guerrilha. “As Farc vêm me ligando desde a primeira semana de janeiro e na última ligação me fizeram uma ameaça”, disse Rosalia Neira, diretora do hospital de São José de Guaviare. A procuradoria-geral colombiana começou ontem uma investigação para descobrir a origem das ameaças.

Indicações

Imperdíveis as colunas de hoje de Clóvis Rossi e Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo. Pena que a companheira de página não mantenha o nível...

Os textos estão abaixo:

A regra do jogo
CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - No Brasil e no mundo, é um lugar-comum as autoridades constituídas declararem que "não negociam com criminosos". Vão às últimas conseqüências, preferem bancar para ver se o adversário está blefando -e geralmente não está.
Tivemos um caso desses durante a ditadura militar. Um grupo de adversários do regime seqüestrou o embaixador dos EUA. Como da tradição dos seqüestros, fez exigências que incluíam a libertação de alguns presos políticos e a leitura de manifestos condenando o arbítrio e a prática de atos totalitários. O governo da época achou mais prudente aceitar o preço do resgate -o que não impediu, pelo contrário, aumentou o grau da repressão.
Na vida pessoal dos cidadãos, muitos casos de seqüestros são negociados pelas famílias das vítimas, que discutem o preço do resgate e acabam não apenas pagando a quantia combinada mas evitam colocar a polícia na jogada -exigência obrigatória dos seqüestradores.
O tema é polêmico. Mas desde que se reconheça um estado de guerra entre a lei e o crime (político ou policial), ficam valendo as práticas tradicionais entre os dois beligerantes. O acordo, a trégua, o toma lá dá cá costumam ser uma regra seguida desde os tempos de Alexandre e de César.
É evidente que a negociação fortalece, em princípio, o inimigo. Mas a própria negociação revela não apenas a força do adversário mas a firmeza de suas convicções -que podem fornecer elementos novos para combatê-lo.
Não vem ao caso discutir se as Farc são um bando de criminosos financiados por traficantes. Em outros tempos, seriam financiados pelo ouro de Moscou ou da China, com a mesma finalidade de contestar e, se possível, derrubar um governo comprometido com a política dos Estados Unidos.


Para sorrir na crise
CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Para quem não está com o seu ardendo na fogueira financeira global, há algumas ironias na situação. A primeira delas já foi exposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao dizer que o pessoal do Citigroup "dava tanto palpite", mas, na hora do vamos ver, "eles demonstraram que não têm tanta competência".
De fato, William Rhodes, hoje presidente do Citibank, foi o presidente do comitê de credores que negociava a dívida externa dos países em desenvolvimento, em especial os da América Latina. Fartou-se de emitir sermões sobre como deveriam comportar-se, assumindo-se como portador das tábuas da lei.
Agora, vê-se que os sermões eram do tipo "faça o que digo, não o que faço", visto que o grupo caiu, de certa forma, na mesma esparrela dos países em desenvolvimento.
O único problema com a ironia de Lula é que ele mudou tanto, mas tanto, que o mesmo Rhodes disse dele, em janeiro de 2005, em Davos, que era "um exemplo para o mundo". Será que a falta de competência que Lula agora vê no Citi se aplica ao "palpite" de Rhodes, dito, de resto, na presença do próprio presidente brasileiro, na cena mais explícita de gozo de um banqueiro com as políticas do lulo-petismo?
Uma segunda ironia vem do fato de que os chamados "fundos soberanos" (dos governos, estatais, portanto) funcionaram como o sétimo de cavalaria no socorro ao Citigroup. Quer dizer o seguinte: banqueiro odeia a intervenção do Estado e gostaria até de vê-lo reduzido à mínima expressão, ao osso. Mas, na hora da necessidade, aceita gostosamente a intervenção do Estado para evitar problemas ainda mais graves.
Ou, posto de outra forma, a intervenção do Estado só é execrável quando se dá a favor dos outros.
Quando é a "meu" favor, "pecunia non olet", o dinheiro não tem cheiro, como diria o Cony.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Lobão e lobãozinho

Brasília, assim como o restante do país, ainda trabalha no ritmo lento das férias. O que não me parece algo completamente ruim, ressalto. Mas o principal fato recente produzido pelos partidos “políticos” foi a indicação do PMDB para o ministério das Minas e Energia. Lula ainda não conversou com o senador Edison Lobão, mas este já lhe causou desconforto.

É difícil acreditar que a pessoa indicada a um cargo dessa importância tenha como suplente alguém suspeito de operar um esquema de sonegação fiscal que causou um prejuízo de R$ 42 milhões ao estado do Maranhão. É ainda mais difícil acreditar que esse suplente seja o próprio filho do senador.

Com isso, pouco se fala da (falta de) experiência de Edison Lobão nos assuntos relacionados ao cargo que poderá assumir. Segundo seu site, o provável futuro ministro das Minas e Energia é jornalista e bacharel em direito.

Fala-se ainda menos sobre a influência que o partido com a maior bancada legislativa exerce sobre o governo federal. É algo como uma atração hipnótica relacionada a alguém que nem sempre é fiel.


Mas a importância desses temas é discutível. Talvez seja melhor falar de flores.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Perdeu o respeito

Está no yahoo notícias: Papa suspende visita à Universidade de Roma após protestos de professores

Deixa eu ver se entendi. O para Bento XVI é odiado. Em Roma!
Imagina se a conferência fosse na cidade de Meca...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

É verde!

Para o desprazer do leitor, este escriba voltou ao trabalho hoje. Arejado, atarefado e principalmente disposto.

Na última semana, estive em Fortaleza. A região tem praias belíssimas e clima agradável (o calor é amenizado pela brisa constante). Mas isso todos já sabem, basta “googlar” o nome da cidade.

O que chamou a atenção na paisagem local foram os coqueiros. Existem alguns com até 30 metros de altura. Exuberantes, destacam-se na beira-mar, mais altos que os prédios. Ao avistá-los num fim de tarde, lembrei de revistas de turismo, cartões-postais e reportagens sobre a beleza daquela terra. A surpresa é que os frutos dessas árvores são ruins para o consumo. Os moradores locais dizem que, pela proximidade com o mar, sua polpa tem gosto desagradável.

Um pouco mais para o interior, nos coqueirais, há uma espécie conhecida como coqueiro anão, que tem no máximo 10 metros de altura e que apesar disso tem frutos melhores e em maior quantidade que as variedades mais altas. São árvores "sem graça", mas delas se extrai a matéria-prima para os doces tradicionais da região e para a água de coco, principal refresco servido nas praias locais.

Beleza não é sinônimo de eficiência. Pelo menos entre os coqueiros.


Curiosidade: Quem procurar por “coqueiro” na wikipedia encontrará a seguinte afirmação: “Em algumas partes do mundo, macacos treinados são usados na colheita do coco. Escolas de treinamentos para macacos ainda existem no sul da Tailândia. Todos os anos são realizadas competições para identificar o mais rápido colhedor.”


Será que é verdade?