sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Imparcial?

E como falei de futebol, recomendo este texto, desabafo de Mauro Beting, um dos melhores jornalistas de esporte do Brasil.

Sofredor

O coração pulsava. Um homem pulava, cantava, gritava, sentia-se parte de uma nação. Naquele momento, sentiu-se vivo. Sentiu-se parte de um ser maior, feito de milhões de sofredores, homens inexplicavelmente sádicos. Todos representados por trinta mil guerreiros que, unidos, formavam uma gigante força sobrenatural.

Trinta mil gritos de incentivo para onze jovens munidos de nenhum segredo além da garra, da força e da superação. Do outro lado, o estrangeiro, mais forte, tentava ferir os garotos. Onze meninos protegidos por uma força sobrenatural, que apesar de gigantesca não podia fazer nada além de incentivar e renovar a energia de seus guerreiros.

O coração pulsava. Um homem pulava, cantava, gritava, sentia-se parte de uma nação. E do Horizonte Belo chegou a notícia. Para fugir do inferno era necessário vencer a batalha. Aquele homem olhou para o alto, conversou com São Jorge, protetor de sua nação, e acreditou por um instante que a vitória chegaria. O coração pulsava.

Ele acreditou na vitória e veio o golpe. Gol do Vasco. Sentiu uma dor aguda no peito. O coração não pulsava mais. Trinta mil guerreiros em silêncio. Som do vento, de passos, do choro das crianças. Por três segundos, pois esta é uma nação de sofredores, homens inexplicavelmente sádicos. Uma força sobrenatural a fez levantar: “Aqui tem um bando de lôco...”

O coração pulsava. Um homem pulava, cantava, gritava, sentia-se parte de uma nação.


Pode ser que o Corinthians caia, pode ser que não. Pela rivalidade e pela vergonha das últimas administrações, não escondo que acho a 2ª divisão justa para o clube. Mas o que o futebol nos ensina é algo mais simples, que talvez explique seu sucesso no Brasil:
Mais que na vitória, a beleza desse esporte está na paixão.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Perigo!

Nas últimas semanas, me soam ainda mais engraçadas as tradicionais e ocas críticas aos governos “populistas” da América Latina. O momento parece preocupante para alguns setores, uma vez que há processos de reforma constitucional na Bolívia, Venezuela e no Equador. Os novos textos ampliarão, se aprovados, o direito a reeleição nestes países. Sim, há também processo semelhante na Colômbia, mas o presidente que tenta se manter no poder por lá tem outro perfil.

Dizer que o direito ampliado à reeleição ameaça a democracia é reducionismo. A ditadura militar brasileira manteve-se mais de 20 anos no poder sem esse artifício. É preciso respeitar a legitimidade de casos em que o povo, respaldado por eleições claras e poderes judiciário e legislativo atuantes, decide que seu representante deve continuar no cargo. Não é o caso do Brasil, afinal até os meus ignorantes botões sabem em quais termos nosso legislativo aprovou a reeleição de FHC.

Sobre a atuação da mídia tupiniquim, um artigo de Marcel Gomes publicado na Agência Carta Maior levanta questões e informações importantes sobre as críticas à reeleição de Chávez e o silêncio na questão Uribe (clique aqui para ler). Meu grifo é o seguinte: Apesar do talento do presidente venezuelano ser apenas retórico, suas palavras incomodam, de leve, os interesses de grandes empresas, que por outro lado andam contentes com a atuação do colega colombiano.

A pergunta, em meio a todos esses dados, é mais simples. “Populismo” ou imperialismo. O que é mais perigoso para a América Latina?

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Parabéns

Que alegria ver um filho nascer!
Aos dois anos de idade, a maioria das crianças já anda sozinha e começa a trilhar o seu caminho. A personalidade se define, e ela fala as suas primeiras palavras: mamã, papá, e, no Brasil, só no Brasil, um vocábulo que encanta. Uma palavra de somente três letras, mas com um significado imenso para milhões de pessoas: GOL. Depois, a criança aprende o nome do time de coração de seus pais. Para alguns, é mais emocionante que os primeiros passos.

Que alegria ver um filho crescer!

Isso tudo é para falar que hoje é o segundo aniversário de uma criança brasileira que tem gol até no nome e que já tem muita história pra contar. Se “filho de peixe, peixinho é”, essa criança tem futuro. E tem muito futuro, até porque tem oito pais talentosos e dedicados. Aliás, ela tem mais do que isso. Porque oito foram os pais que a viram nascer, mas a família aumentou bastante.

O tempo passa rápido e em breve alguns dos que cuidaram dessa criança desde o seu nascimento vão deixá-la. Porém, eles estão tranqüilos. O peito aperta, sim, mas existe a certeza que essa família fará tudo para a criança crescer com saúde.

Hoje, o programa MetôGol completa seus dois primeiros anos. Ele já corre sozinho, e já fala com clareza sobre o que está no coração dos seus pais: a paixão pelo trabalho.

Que alegria ver uma família crescer!



Ps: O programa MetôGol é um projeto de colegas do curso de jornalismo criado há dois anos, quando estávamos no 2º semestre. Ele é veiculado pela rádio Metodista On-line, todos os dias, a partir das 18:45. Sempre que o Palmeiras está em boa fase ou em datas especiais, peço para participar. Dessa vez não foi diferente. O texto acima será lido hoje à noite, no programa especial de aniversário.
Para ouvir os programas antigos, acesse programametogol.podomatic.com

terça-feira, 27 de novembro de 2007

No Uol, agora à tarde:

A manchete trazia: “Brasil muda de patamar e ingressa em grupo de alto IDH, aponta ONU”

Mas no texto, a “novidade” que mais me chamou a atenção: “No Brasil, os 10% mais ricos da população têm renda 51,3 vezes maior do que os 10% pobres.”

Quando parece que melhorou, o principal não mudou.

Bons de mira

Responda rápido. Um político da América Latina que cumpre suas promessas de campanha merece críticas ou elogios? Pois é colega, se você respondeu o que parecia lógico, lembre que por aqui as coisas estão sempre invertidas.

Dois exemplos. No Brasil, passaram-se cinco anos, e nada do que se esperava foi feito. Um prato cheio para críticas. Apesar disso, a oposição tem uma atuação digna de risos e da indiferença que o governo tem lhe reservado. Os arautos da competência administrativa não demonstram capacidade nem de fazer críticas. A única voz audível é a contraditória gritaria de FHC. O governo tem uma atuação insossa e não cumpre o que prometeu, mas as críticas são ainda piores, estão abaixo do medíocre.

Na Bolívia, Evo Morales falou sobre nacionalização dos recursos naturais, defesa da população indígena e dos produtores de coca desde sua campanha. Quando cumpriu as promessas, nós achamos um absurdo: “Esse índio está maluco! Como esse povo escolheu um cara como ele? O gás da Bolívia é nosso!”.

Pergunto aos meus botões, a alguns colegas, ao santo google, mas ninguém me responde: defender a população pobre de seu país e tentar cumprir o que prometeu são erros muito grandes para um líder na América Latina?

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Cadê a notícia?

A principal notícia do dia nos cadernos internacionais veio da Bolívia e trata das mortes decorrentes de confrontos entre policiais e manifestantes contrários à aprovação de uma nova Constituição para o país. Após acompanhar a cobertura da Folha e do Estadão, o leitor consegue - de forma precária, é verdade – compreender o que vem acontecendo desde sexta-feira na cidade de Sucre, uma das capitais do país sul-americano.

O “texto geral”, que ainda será discutido em detalhes, foi aprovado sem presença da oposição, num prédio militar. Por isso, os descontentes saíram às ruas, reivindicando que a sessão fosse anulada. Está bem fácil. A notícia? Quatro pessoas foram mortas. Como e por quê? Um policial linchado, um manifestante baleado e duas mortes sem detalhes, na “onda de violência” decorrente de uma votação controversa.

Mas, para quem lê, ainda falta sentido à notícia. Ninguém falou sobre a real motivação dos protestos: as mudanças que a nova constituição trará, se aprovada, para os bolivianos, e principalmente, para os brasileiros. Dos que acompanhei, o único veículo brasileiro que tocou no assunto foi a Agência Carta Maior. Para mim, também foi quem fez a melhor cobertura.

É bom lembrar que a notícia nossa de cada dia só faz sentido dentro de seu contexto. Ler uma página inteira de jornal para saber somente que quatro pessoas morreram na Bolívia soa como ofensa num país que se acostumou, na TV e nos jornais, a ver jovens mortos.

Justificativa

Se a besteira está feita, arrume uma desculpa.

Resolvi enfrentar o desafio de publicar, a cada dia útil, uma crônica diferente, sobre temas diferentes. Tentarei falar de tudo, de acordo com o que achar mais importante, ou mais inspirador. Mais do que uma tentativa de divulgar idéias, é uma maneira de exercitar o texto e a reflexão.

Portanto não esperem coisa boa.