Conforme prometido, e antes que seja tarde, publico a reportagem. Espero (tenho certeza) que os editores do Rudge Ramos On-line não verão isto.
Político profissional?
Danilo Maeda
Guilherme Martinelli
Em ano de eleições municipais, é normal imaginar que a Câmara de Vereadores se renove, certo? Errado. Pelo menos não é assim que funciona na maioria dos municípios do ABC.
Em São Caetano, de todos os vereadores eleitos, apenas um, Edgar Nóbrega (PT), está no seu primeiro mandato. Os outros dez vereadores já se encontram no mínimo em sua segunda gestão, e entre eles, três já passaram do quarto mandato.
Nas últimas eleições de São Bernardo, cidade mais populosa da região, apenas sete vereadores foram levados ao cargo pela primeira vez, contra 14 reeleitos. De acordo com levantamento feito pelo Rudge Ramos on-line, o quadro pode ser agravado nas próximas eleições. Dos 21 vereadores da cidade, somente três não irão concorrer à reeleição em outubro. Um deles, José Tavares, porque estará como vice-prefeito na chapa de seu partido, o PC do B. Ou seja, se depender dos atuais parlamentares, a Câmara continua como está.
Alguns casos de reeleições por diversas legislaturas chamam a atenção. Na cidade, há 11 parlamentares com mais de três mandatos. O vereador com mais tempo de casa é Lenildo Magdalena, do PSB. Ele está na sua 11ª legislatura. Tentará reeleição em 2008. Desde 1956, quando foi eleito pela primeira vez, ficou de fora somente em um mandato, de 1989 a 1992, os quatro anos em que o PT administrou a cidade. Outro nome conhecido do eleitor sãobernardense é Ary de Oliveira, também do PSB, que tentará ser escolhido para o sexto mandato. Ele explica porque nunca concorreu a outro cargo público. “Nunca tive intenção de sair. Me propus ser candidato a vereador e ter contato mais direto com o pessoal”.
Segundo o cientista político Rui Tavares Maluf, é normal, nas democracias, que a vida política se torne uma profissão. “Numa sociedade democrática, a única forma de atrair as pessoas, é fazer com que elas tenham uma continuidade”. Porém, ele destaca a necessidade de controle público sobre a classe política. “O que me parece mais importante é saber se essa classe política ‘profissional’ tem ou não qualidade”, comenta.
Para os candidatos a debutar na vida política, a tradição de continuísmo da Câmara Municipal é prejudicial à cidade. Segundo a candidata Regina Peres, do PMDB, que tentará o cargo de vereadora pela segunda vez, a renovação é importante. “Senão se esquece da natureza do cargo e ser vereador acaba virando uma profissão”, comentou. Para ela, também seria benéfico que as mulheres tivessem mais espaço na Câmara. “O pessoal não acredita em mulheres. Só temos uma, a Dra. Julieta (PSB)”.
Escolinha de política
Com a “profissionalização” dos cargos públicos, surgiram no Brasil diversos cursos de especialização em gestão de políticas públicas. A Universidade de São Paulo oferece inclusive um curso de graduação na área. No ABC, a Universidade Federal começará em março as aulas de seu primeiro curso de extensão em gestão metropolitana. As 30 vagas foram preenchidas e ainda há uma fila de espera de candidatos. Os especialistas consideram que este movimento é positivo.
Segundo Tavares Maluf, que leciona no curso de gestão pública da Fundação Escola de Sociologia e Política, os cursos são “mais do que necessários”. Mas ele faz uma ressalva: “as pessoas se matriculam, fazem o curso e não é tão difícil conseguir o certificado. O mais difícil é saber como a pessoa conseguirá colocar as coisas em prática, porque depende de método e de conhecimento, mas também de princípios”, concluiu.
terça-feira, 4 de março de 2008
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11 mandatos? 44 anos de vida pública? Eu quero!
ResponderExcluirBela matéria. Só uma observação: o mais irônico é existir uma matéria com o sobrenome "Maluf" e vc não duvidar da fonte.
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