quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Sintonia

Não tenho relações diretas com o câmbio; não saco sobre Londres, nem sobre qualquer outro ponto da terra, que é assaz vasta, e eu demasiado pequeno
Machado de Assis, O câmbio e as pombas



Como leigo, me arrisco a comentar uma aparente contradição da economia nacional.

“O BC não pode viver numa esfera apartada da Nação. O Banco Central é um banco; deveria agir como tal, desdobrando-se em esforços para prover a economia de crédito a custos compatíveis; e não se portar como um governo paralelo”.

A frase é de Luiz Gonzaga Belluzzo, professor do Instituto de Economia da Unicamp. A declaração foi publicada numa reportagem da Agência Carta Maior sobre a manutenção da taxa básica de juros.

O mundo enfrenta uma crise de crédito. Ou seja, ficou muito caro tomar dinheiro emprestado. Assim, as empresas não conseguem realizar investimentos e as pessoas têm que comprar menos. Em um momento como esse, o mais indicado para instituições públicas seria facilitar o crédito e incentivar o consumo. Colocar mais dinheiro para “rodar” a economia. O BC faz o contrário.

A crítica faz ainda mais sentido quando se comparam as condutas do governo e do Banco Central. Dentro de suas limitações políticas, a equipe do presidente Lula adota iniciativas positivas (mesmo que insuficientes). A previsão de aumento no salário mínimo e a redução do IPI para carros populares são bons exemplos.

Do outro lado, a direção do Banco Central atua com autonomia, apesar de ser organicamente subordinada à presidência. A independência é importante para consolidar a imagem de um país comprometido com a estabilidade econômica, mas não pode produzir retrocessos.


No meio deste texto, lembrei de algo escrito em janeiro de 2007:

Poesia econômica e autonomia do BC
O chefe chegou: é pê á cê!
Mas depende do bê cê,
que manda mais que o pê tê
e mais que eu e que você
desde o tempo éfi agá cê.

Que autonomia, que prazer:
Quem mandaria quer fazer,
Mas quem faria, se abstém.
E o gigante, como está?
Novamente a adormecer.


* A matéria citada no segundo parágrafo pode ser acessada aqui. O texto é bem carregado ideologicamente, mas a análise de Belluzzo é esclarecedora.

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